Foto: Divulgação/ Adema

Manchas de óleo vêm aparecendo nas praias do Nordeste desde o final de agosto. A princípio, eram discretas, mas foram aumentando e, agora, grandes concentrações de petróleo já foram avistadas em mais de 150 praias nos nove estados da região. Os impactos vão desde o prejuízo no turismo, atividade importante nesses locais, até ameaças à saúde do ecossistema marinho.

Vazamentos de petróleo não são incomuns em locais que abrigam refinarias, como o Brasil e, em geral, têm impactos bastante negativos. Esse acontecimento, contudo, é incomum não apenas pela incerteza quanto à origem do material, mas também pela sua composição. O óleo foi identificado como petróleo cru. Isso significa que ainda não passou por nenhuma das etapas de tratamento que são realizadas para torná-lo comercializável. José Luiz Mucci, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), é pesquisador nas áreas de Ecologia e Saúde Pública, e fala sobre as consequências desse acontecimento. “O petróleo cru tem basicamente os mesmos impactos do petróleo refinado, porém tem algumas substâncias mais difíceis de serem degradadas.”

O professor explica que o vazamento tem consequências para diversas espécies marítimas e pode levar a graves alterações no ecossistema. Segundo ele, algumas das espécies mais impactadas são as de fitoplâncton e zooplâncton. Esses seres vivos são microorganismos de altíssima importância para a cadeia alimentar, e são muito prejudicados pelas substâncias presentes no petróleo. Entretanto, não são os únicos afetados. As aves marítimas podem ter as penas impregnadas por esse material, o que as impede de voar, se alimentar e, eventualmente, se locomover. O mesmo acontece com as tartarugas, quando ingerem o óleo, acidentalmente. Já no caso dos peixes, o que ocorre é um bloqueamento das brânquias e consequente impedimento da respiração, levando à morte. “Os impactos são diferentes para cada espécie, porque cada animal tem uma capacidade diferente de resistir à poluição”, afirma José Luiz.

Além dos impactos ambientais, há também as questões sociais. “O problema estético tem uma certa importância na praia. A água fica com um aspecto feio, que afasta as pessoas.” Isso tem relação com a diminuição da atividade turística nos locais afetados. E, ainda assim, a aproximação pode ser muito prejudicial para a saúde humana. “O óleo fica impregnado na pele, o que impede várias substâncias de entrarem e saírem da nossa pele. Além disso, só inalar esse material pode causar náuseas e outros sintomas.” As substâncias presentes no petróleo são de altíssima toxicidade para o ambiente e o ser humano.

“Precisa haver uma punição das empresas responsáveis. Sabe-se muito bem como prevenir isso, atualmente, e colocar punições pecuniárias é paliativo, já que essas empresas têm dinheiro. É preciso que sejam de fato punidas.” Os responsáveis pelo derramamento ainda não foram identificados, mas José Luiz comenta que, independentemente de a situação ser considerada acidente ou negligência, a identificação e punição são essenciais. Também é imprescindível buscar conter o óleo o mais rápido possível. “Essa tecnologia existe, consiste basicamente em boias que são colocadas circundando o material, para contê-lo, e algumas substâncias que são utilizadas para dissolvê-lo”, explica. Quanto mais tempo o óleo passar no mar, maiores serão as consequências, que podem ser irreversíveis. “Nenhum ecossistema, depois que sofre esse impacto volta a ser o que era antes.”

Estudante de Jornalismo na ECA-USP e estagiária na Redação do Portal Veg.